No passado dia 22 de janeiro, São Domingos, a área sanitária da região de Cacheu junto à fronteira com o Senegal, recebeu a visita da encarregada dos programas de saúde da delegação da União Europeia na Guiné-Bissau, Donatella Gobbi.
O dia iniciou com a visita à Estratégia Avançada na tabanca de Campada Maria – a Estratégia Avançada contempla deslocações dos(as) técnicos(as) de saúde até algumas tabancas mais isoladas e com menor acesso ao centro de saúde para fazer o seguimento de crianças e grávidas, incluindo a vacinação.
No Centro Comunitário de Saúde Materno Infantil de São Domingos, é a enfermeira Mariana, parteira e administradora do centro, que vai guiando a visita, indicando que ali se recebem, para consultas, as mulheres grávidas, as mães, os bebés e as crianças. “As consultas para as crianças ocorrem mais na época das chuvas, por causa do paludismo e das infeções respiratórias”, contou.
Dr. Inghala, diretor clínico do Hospital Regional de São Domingos, acredita que as mulheres já começam a frequentar mais as consultas pré-natais devido à sensibilização feita em Estratégia Avançada pelos técnicos de saúde e pelos Agentes de Saúde Comunitária, mas também pelo espaço físico e qualidade do Centro Materno Infantil de São Domingos que diz atrair mais mulheres a confiarem a sua saúde e dos seus bebés aos profissionais que aqui trabalham.
O Centro Materno Infantil de São Domingos foi construído em 2010 pela ONG VIDA, com o apoio do Camões-Cooperação Portuguesa, Fundação Calouste Gulbenkian e Alto Comissariado da Saúde, e desde então é gerido através de um modelo de gestão tripartida – VIDA, Ministério da Saúde e Associação de Mulheres de São Domingos. No dia anterior à visita, o Centro Materno Infantil era reconhecido como um dos centros com melhor gestão na região de Cacheu (avaliação feita pela ONG EMI).
A visita contemplou, ainda, a farmácia comunitária de São Domingos, contígua ao Centro Materno Infantil.
Com base na experiência de trabalho da ONG VIDA no âmbito da saúde comunitária e materno-infantil na Guiné-Bissau, os projetos desenvolvidos têm contemplado o fortalecimento do Centro Comunitário de Saúde Materno Infantil de São Domingos com o objetivo de que se torne um centro de referência no país. Nos últimos anos, em conjunto com a ONG Helpo, este apoio tem-se concretizado no âmbito do projeto “Reforço das Estruturas de Saúde de Iniciativa Comunitária na região de Cacheu – Mutualidade de Saúde e Centro Comunitário de Saúde Materno Infantil de São Domingos”, financiado por Camões-Cooperação Portuguesa, Fundação Calouste Gulbenkian e Direção Geral de Saúde.
O dia terminou com um encontro com os(as) Agentes de Saúde Comunitária de São Domingos, onde partilharam de perto as histórias e as dificuldades do seu trabalho diário com as famílias. Para Donatella Gobbi, foi importante conhecer pessoalmente alguns dos(as) Agentes de Saúde Comunitária, perceber as suas histórias, motivações e problemas – “Antes só conhecia os ASC através do que lia no papel”.
O trabalho dos Agentes de Saúde Comunitária (ASC) iniciou em 2011 com o primeiro PIMI – Programa para a Redução da Mortalidade Materna e Infantil na Guiné-Bissau e, desde então, muitos dos(as) Agentes de Saúde Comunitária mantém-se em funções até hoje, apesar das muitas dificuldades que encontram. Comprova-o a taxa de substituição de ASC na região de Cacheu, na passagem do PIMI I para o PIMI II, que ronda apenas os 20%. “Mudar as mentalidades não é fácil. É um trabalho que não é de hoje para amanhã.”, conta Gino Manga, agente de saúde comunitária na tabanca mais distante de São Domingos.
Julieta Nanque é educadora de infância e agente de saúde comunitária na sua comunidade. Ao seu encargo, tem 79 agregados familiares para acompanhar mensalmente, promovendo 16 Práticas Familiares Essenciais com especial atenção às mulheres grávidas, recém-nascidos e crianças menores de cinco anos. “Gosto de saber que estou a ajudar a minha comunidade e gosto também do trabalho com crianças.”
Ao longo do tempo, as famílias começam a confiar no trabalho dos(as) Agentes de Saúde Comunitária, abrindo-lhes a porta de suas casas. Gilberta da Costa começou em 2011 como Agente de Saúde Comunitária e acompanha atualmente 96 agregados familiares. As pessoas da sua tabanca já recorrem à sua ajuda quando alguma criança está doente para saber qual o tratamento ou medicamento mais adequado; quando o diagnóstico e tratamento da doença está fora do seu alcance, reencaminha as mães para o centro de saúde mais próximo.
“A saúde começa na comunidade. Antes da saúde curativa, está a saúde preventiva e é isso que os ASC fazem”, diz Mário Mango, enfermeiro e responsável pela área sanitária de São Domingos, que acompanha de perto o trabalho destes e destas Agentes de Saúde Comunitária.
A ONG VIDA encontra-se a operacionalizar a rede de Agentes de Saúde Comunitária na região de Cacheu desde 2011 até ao presente, no âmbito do PIMI – Programa para a Redução da Mortalidade Materna e Infantil na Guiné-Bissau – da União Europeia e do governo guineense, contando com o financiamento de UNICEF e Camões-Cooperação Portuguesa.