Um grupo de oito jovens rumo a um Climate Camp em Viena de Áustria. A maioria do grupo conheceu-se apenas no dia da viagem. Três artistas, um biólogo, uma socióloga, um estudante de psicologia, uma bioquímica, uma educadora e cada um/a mais que isso. As próximas 7 noites seriam partilhadas numa só tenda. No meio do movimento da vida profissional/estudantil, citadina, a semana poderia ser vista como uma oportunidade para abrandar, absorver informação, estar exposto/a a novidades, conhecer novas pessoas, intervir.
O acampamento tenta travar a construção de uma autoestrada em Lobau, uma área protegida de Viena, e todos os impactos que essa construção terá na Natureza aí estabelecida. “Lobau Bleibt!”, “Lobau Fica!”. Até agora a ação conseguiu o cancelamento de um projeto de construção de um túnel num parque natural a 5kms de onde dormimos.
Parte do grupo participou num curso sobre o movimento “Degrowth”, “Decrescimento”, o contrário de crescimento, uma alternativa ao sistema e visão económica vigentes. Aí, o termo autoestrada voltou a surgir. Apresentaram-nos o conceito de infraestruturas mentais, para lá das físicas, que suportam o nosso modo de vida capitalista. A ideia de que, assim que construída uma autoestrada, a utilização das estradas nacionais, alternativas, deixa de ser tão frequente até que estas se tornam obsoletas.
Imaginem as autoestradas-valores que temos construído neste sistema em que vivemos. Seguimos pela competição, pelo sucesso, pela produtividade, pela validação… Os valores que mais nos aproximam e preenchem certamente não serão esses. Enquanto isso, valores como a partilha, o cuidado, a expressão, a empatia, a cooperação, deixam de estar tão presentes, deixamos de seguir tantas vezes esses caminhos até que nos podemos vir a esquecer deles.
No grupo senti esses caminhos alternativos, sentimos o encaixe com naturalidade. De dia para dia, sentia o grupo a aproximar-se. Cada pessoa com que partilhamos o tempo, inspira. Cada pessoa do grupo que acompanhei, inspirou. Senti-nos uma alma de artista que vê na sua forma de expressão um dos caminhos para transmitir a mensagem que a move.
Talvez esperássemos uma estrutura mais organizada por parte de quem organizou o acampamento, mas ainda assim não deixámos de sentir que existia uma atmosfera de respeito e cuidado que nos abraçava, uma mística hippie que soube bem sentir. Se uma das vias para a ação climática é o aproximarmo-nos uns dos outros e nos conhecermos, sem dúvida que a nossa presença neste Climate Camp cumpriu os seus objetivos.
Ligação e aproximação são as palavras que definem, para mim, esta experiência. A ideia de que diferentes personalidades atuam de forma diferente para um objetivo comum – essa harmonia que esperamos alcançar, o respeito por tudo o que nos rodeia, por nós próprios.
Os lugares são as pessoas, as experiências são as pessoas, e enquanto nos sentirmos rodeados de pessoas boas, que nos inspiram, teremos força para fazer face ao que de menos bom nos rodeia, às autoestradas mentais por que temos andado e de onde queremos sair.
Por Diogo Mendes, biólogo e dinamizador ambiental da ONGD VIDA