Entre 6 e 18 de novembro, líderes de todo o mundo reúnem-se na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas – a COP27, a decorrer no Egipto, com o objetivo de discutir e traçar metas globais para o combate às alterações climáticas. Os desafios são muitos, mas o relógio conta cada vez menos tempo para alcançar as metas climáticas… ou devemos falar de limites para a nossa vivência no planeta?
Um dos documentos apresentados nesta Cimeira do Clima por um grupo de cientistas apresenta Dez Novas Visões Sobre a Ciência Climática, em que enumeram 10 conclusões e ideias concretas para orientar decisões globais e nacionais no caminho a tomar para combater a crise climática. Já não basta falar em adaptação, mas é urgente mitigar .“A adaptação não pode substituir esforços ambiciosos de mitigação”, esforços que devem ter em conta as populações que se encontram nas regiões mais vulneráveis do planeta, nomeadamente, África Central e Oriental, Sahel, América Central, Ásia e Médio Oriente. Estima-se que aproximadamente 1,6 biliões de pessoas vivem em “hotspots” de vulnerabilidade, resultante das desigualdades estruturais decorrentes da exploração desequilibrada dos recursos planetários.
Outra das conclusões salienta que a mitigação climática passa pela mudança no uso da terra que deve conservar e proteger as florestas primárias e antigas, e, por outro lado, restaurar florestas degradadas, o que, por sua vez, ajudará a proteger a biodiversidade e o sustento das populações, bem contribuir diretamente para a captura e armazenamento de carbono. Promover práticas agrícolas de conservação e regeneração ajudam a ter um solo saudável que permite uma melhor absorção da água, menor erosão e aumento da sua produtividade, fundamental para assegurar a segurança alimentar de populações de todo o mundo. Estes são temas que nos são familiares e com os quais temos vindo a trabalhar com as comunidades no nosso trabalho diário ao longo de 30 anos de existência. Em Moçambique e na Guiné-Bissau, dois dos países mais afetados pelas alterações climáticas, têm sido exploradas em conjunto com as famílias e comunidades soluções que contemplam os sistemas de Agroecologia, a gestão sustentável dos recursos naturais, e a conservação da biodiversidade pelas populações locais. Soluções que procuram melhor servir as comunidades a fazer face aos constrangimentos do seu dia-a-dia, sem pôr em causa o ecossistema em que se encontram e de que dependem quase exclusivamente.
Em Portugal, no âmbito do projeto europeu “1Planet4All”, a VIDA tem procurado apoiar ativamente soluções locais que contribuam para a mitigação, sobretudo através da plantação de miniflorestas urbanas e da promoção de ações de reflorestação, envolvendo jovens, escolas e faculdades neste processo. Através da prática, convocamos ideias, reflexões e questões pertinentes que estimulem o pensamento crítico sobre os desafios à nossa volta. Para além do gesto em si que assume um contributo direto para a ação climática, procuramos promover, por um lado, valores como a proximidade e o cuidado, a resiliência, a responsabilidade e a solidariedade, e por outro, fomentar o envolvimento comunitário, o trabalho coletivo e a cooperação que permitem a construção de redes que consigam responder aos desafios locais e globais do presente e futuro.
Perante o panorama assombrador de desafios globais, cabe-nos a nós pensar o geral através do detalhe, ou seja, trabalhar as dimensões que estes problemas assumem em cada realidade, observando as suas especificidades e desenhando e aplicando, em conjunto com as comunidades, soluções concretas adequadas ao seu contexto. É aí que se inicia o caminho da transformação e da mudança. Como referem Duflo e Banerjee, laureados com o Nobel das Ciências Económicas em 2019, “falar acerca dos problemas do mundo sem falar acerca de algumas soluções acessíveis é a via para a paralisia e não para o progresso. (…) é realmente útil pensar em termos de problemas concretos que podem ter respostas específicas.”